Quando Ken Thompson sentou-se à frente de um microcomputador chamado PDP-7, para iniciar
seu projeto pessoal nos laboratórios da AT&T em 1969, sua intenção era
portar, para uma máquina mais barata, um jogo chamado "Space Travel",
escrito por ele mesmo. O game rodava em um gigantesco mainframe General
Electric 645 e servia para demonstrar o sistema operacional que estava sendo
desenvolvido pela AT&T na época, o "Multics".
Entretanto, a empresa cancelou o desenvolvimento do
"Muitics" no fim da década. Além disso, cada partida do jogo,
calculados os custos computacionais, custava mais ou menos US$ 75 no GE-645
(US$ 370 ou cerca R$ 700, corrigida a inflação). Para continuar com a jogatina,
Thompson e seu colega Brian Kernigham decidiram criar um "Multics"
simplificado que permitisse rodar o programa.
Em apenas um mês, já tinham um sistema operacional
rudimentar, um interpretador de comandos (shell), um editor de textos e
ferramentas de programação. Kernigham batizou o "sisteminha" de
"Unics", em uma alusão ao "Multics", e logo foi rebatizado
como "Unix".
Após ser rebatizado como "Unix" o projeto foi
crescendo assim como toda a equipe em sua volta. Em 1972, após Dennis Ritchie,
também da AT&T ter criado a linguagem de programação C, o "Unix"
foi totalmente reescrito tornando-se assim, "portável", ou seja, que funcionava
em máquinas de outros modelos e fabricantes sem precisar ser reescrito do zero.
Em 1974, a partir de um artigo publicado na revista mensal
da ACM (Association for Computing Machinery), despertaram-se interesse de
acadêmicos e instituições do mundo todo pelo novo sistema operacional. Como o
código-fonte era livremente distribuível, começaram a surgir novas versões além
da original da AT&T. A primeira foi a "BSD" (Berkeley Software
Distribuition), da Universidade da Califórnia, em Berkeley.
Já em 1979, começaram a surgir as implementações comerciais
do "Unix" para servidores. As mais conhecidas foram: "Sun OS", da Sun (posteriormente
rebatizada para "Solaris"), "Xenix" (Microsoft),
"HP/UX" (HP) e "AIX" (IBM).
Como as implementações de cada empresa eram ligeiramente
diferentes entre si, a partir daí o "Unix" não era mais "o
Unix", um sistema operacional, mas sim "um Unix", um tipo de
sistema operacional.
As "Guerras do Unix"
Nos anos 80, com a multiplicidade de empresas desenvolvendo
e vendendo seu próprio “sabor” de Unix, adveio uma certa contradição no
mercado. Apesar de serem vendidos como sistemas abertos, cada fabricante
tentava trancar os clientes com pequenos recursos e incompatibilidades entre a
sua versão e a dos concorrentes.
A Guerra de verdade que se formou foi deletéria para a
imagem do sistema: não havia mais Unix enquanto produto, havia AIX, HP/UX,
Solaris e assemelhados. O Unix havia deixado de ser um sistema operacional
único para ser, por assim dizer, um “selo” a ser dado a sistemas operacionais
que se parecessem com o Unix original – o que causou uma confusão sem
precedentes no mercado. Como se não bastasse, os fabricantes vendiam (e ainda
vendem), de forma casada, hardware e software, por preços bastante elevados. O
AIX, da IBM, só funcionava em máquinas IBM, enquanto o Solaris só rodava em
máquinas Sun.
A escalada dessa “corrida armamentista” acabou afastando os
potenciais compradores do Unix e aproximando-os de um outro sistema operacional
de servidor, não-Unix, que despontava então: o Windows NT, da Microsoft. Além
do próprio NT ser mais barato, o sistema rodava em PCs comuns de baixo custo.
Com o crescimento do Windows NT no mercado, várias associações de fabricantes
surgiram na época, mas eram numerosas demais para chegarem a um consenso. Com o
passar dos anos, e ainda movidas pelo pânico, essas associações foram se
fundindo ou extinguindo.
Hoje, apenas uma associação, que representa todos os maiores
fabricantes do mundo, tem o poder de certificar quem é e quem não é Unix: a The
Open Group, que publicou a chamada Single Unix Specification, ou SUS
(especificação única do Unix, na tradução). Qualquer sistema operacional que
passe pelo teste do SUS pode se auto intitular Unix.
Mas mesmo essa definição unificada, não foi possível acabar
com as incompatibilidades. Por exemplo, o Mac OS X, sistema operacional dos
produtos Apple modernos, é um tipo de Unix certificado. Mesmo assim, um
programa escrito para o SCO Unix, por exemplo, não funcionaria no Mac OS X. Na
prática, a atual definição de Unix é apenas cosmética.
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